Para ir à Lua

Enquanto não têm foguetes para ir à Lua os meninos deslizam de patinete pelas calçadas da rua. Vão cegos de velocidade: mesmo que quebrem o nariz, que grande felicidade! Ser veloz é ser feliz. Ah! se pudessem ser anjos de longas asas! Mas são apenas marmanjos.

Autor: Cecília Meireles

Ah, se eu pudesse voltar!

Cair e rolar no chão sem medo de se sujar, correr no meio da rua, não ter conta pra pagar. Como era bom ser criança. Ah, se eu pudesse voltar!
Comer goiaba no pé, soltar pipa, pedalar, jogar bola no campinho, ir pra escola estudar. Como era bom ser criança. Ah, se eu pudesse voltar!
Ir pra casa da vovó pra comer e engordar. Ser sincero e verdadeiro falando o que quer falar. Como era bom ser criança. Ah, se eu pudesse voltar!
Ser o futuro do mundo e nem se preocupar, brigar com um amiguinho e ligeiro perdoar. Como era bom ser criança. Ah, se eu pudesse voltar!
Ter amor em seu sorriso e bondade em seu olhar, sonhar e ter a certeza de que vai realizar. Como era bom ser criança. Ah, se eu pudesse voltar!
Querer que o relógio corra fazendo o tempo passar pra ser grande, ser adulto e, quando a hora chegar, dizer repetidamente: Ah, se eu pudesse voltar!

Autor: Bráulio Bessa

Roda pião

Olhinhos extasiados,
ele observa o pião
gira-girar acelerado.
Colorido,
o brinquedo se enrola no corpo listrado
e roda como bailarina
a esvoaçar o tule do vestido.
Aos poucos, se cansa,
arrefece,
perde a força,
cessa a dança.
No desencanto dos olhos da criança,
a ciranda do pião
reflete a própria vida:
ao girar em volta de si mesmo,
retorna sempre ao ponto de partida.

Autor: Bráulio Bessa

Quando as crianças brincam

Quando as crianças brincam E eu as oiço brincar, Qualquer coisa em minha alma Começa a se alegrar.
E toda aquela infância Que não tive me vem, Numa onda de alegria Que não foi de ninguém.
Se quem fui é enigma, E quem serei visão, Quem sou ao menos sinta Isto no coração.

Autor: Fernando Pessoa

Infância

Meu pai montava a cavalo, ia para o campo. Minha mãe ficava sentada cosendo. Meu irmão pequeno dormia Eu sozinho, menino entre mangueiras lia história de Robinson Crusoé, comprida história que não acaba mais.
No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu chamava para o café. café preto que nem a preta velha café gostoso café bom
Minha mãe ficava sentada cosendo olhando para mim: - Psiu... não corde o menino. Para o berço onde pousou um mosquito E dava um suspiro... que fundo!

Autor: Carlos Drummond de Andrade

FIM