Poemas

Poemas sobre infância e crescimento

Ah, se eu pudesse voltar!



Cair e rolar no chão
sem medo de se sujar,
correr no meio da rua,
não ter conta pra pagar.
Como era bom ser criança.
Ah, se eu pudesse voltar!

Comer goiaba no pé,
soltar pipa, pedalar,
jogar bola no campinho,
ir pra escola estudar.
Como era bom ser criança.
Ah, se eu pudesse voltar!

Ir pra casa da vovó
pra comer e engordar.
Ser sincero e verdadeiro
falando o que quer falar.
Como era bom ser criança.
Ah, se eu pudesse voltar!

Ser o futuro do mundo
e nem se preocupar,
brigar com um amiguinho
e ligeiro perdoar.
Como era bom ser criança.
Ah, se eu pudesse voltar!

Ter amor em seu sorriso
e bondade em seu olhar,
sonhar e ter a certeza
de que vai realizar.
Como era bom ser criança.
Ah, se eu pudesse voltar!

Querer que o relógio corra
fazendo o tempo passar
pra ser grande, ser adulto
e, quando a hora chegar,
dizer repetidamente:
Ah, se eu pudesse voltar!
Bráulio Bessa

Roda pião



Olhinhos extasiados,
ele observa o pião
gira-girar acelerado.
Colorido,
o brinquedo se enrola no corpo listrado
e roda como bailarina
a esvoaçar o tule do vestido
. Aos poucos, se cansa,
arrefece,
perde a força,
cessa a dança.
No desencanto dos olhos da criança,
a ciranda do pião
reflete a própria vida:
ao girar em volta de si mesmo,
retorna sempre ao ponto de partida.

Bráulio Bessa

Quando as crianças brincam



Quando as crianças brincam
E eu as oiço brincar,
Qualquer coisa em minha alma
Começa a se alegrar.

E toda aquela infância
Que não tive me vem,
Numa onda de alegria
Que não foi de ninguém.

Se quem fui é enigma,
E quem serei visão,
Quem sou ao menos sinta
Isto no coração.
Fernando Pessoa

Infância


Meu pai montava a cavalo, ia para o campo.
Minha mãe ficava sentada cosendo.
Meu irmão pequeno dormia
Eu sozinho, menino entre mangueiras
lia história de Robinson Crusoé,
comprida história que não acaba mais.

No meio-dia branco de luz uma voz que aprendeu
a ninar nos longes da senzala - e nunca se esqueceu
chamava para o café.
café preto que nem a preta velha
café gostoso
café bom

Minha mãe ficava sentada cosendo
olhando para mim:
- Psiu... não corde o menino.
Para o berço onde pousou um mosquito
E dava um suspiro... que fundo!
Carlos Drummond de Andrade