Poema

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Sobre o autor

Fernando António Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa em 1888. Órfão de pai aos 5 anos, enfrentou dificuldades financeiras com sua família. Em 1895, após o segundo casamento de sua mãe, mudaram-se para a África do Sul, onde Pessoa recebeu educação inglesa. Aos 14 anos, retornou a Lisboa, mas não concluiu o curso de Filosofia. Dedicou-se à literatura e integrou o movimento modernista, fundando a Revista Orfeu. Em 1921, criou a Editora Olisipo, publicando poemas em inglês. Pessoa faleceu em 1935, aos 47 anos, vítima de cirrose hepática, deixando um importante legado literário.

Música

Aquilo que a gente lembra
Sem o querer lembrar,
E inerte se desmembra
Como um fumo no ar,
É a música que a alma tem,
É o perfume que vem,
Vago, inútil, trazido
Por uma brisa de agrado,
Do fundo do que é esquecido,
Dos jardins do passado

Aquilo que a gente sonha
Sem saber de sonhar,
Aquela boca risonha
Que nunca nos quis beijar,
Aquela vaga ironia
Que uns olhos tiveram um dia
Para a nossa emoção —
Tudo isso nos dá o agrado,
Flores que flores são
Nos jardins do passado

Não sei o que fiz da vida,
Nem o quero saber
Se a tenho por perdida,
Sei eu o que é perder?
Mas tudo é música se há
Alma onde a alma está,
E há um vago, suave, sono,
Um sonho morno de agrado,
Quando regresso, dono,
Aos jardins do passado.

Vídeo da música