Poemas de Amor

Amor é fogo que arde sem se ver, de Luís de Camões

                é ferida que dói, e não se sente;
                é um contentamento descontente,
                é dor que desatina sem doer.

                É um não querer mais que bem querer;
                é um andar solitário entre a gente;
                é nunca contentar-se de contente;
                é um cuidar que ganha em se perder.

                É querer estar preso por vontade;
                é servir a quem vence, o vencedor;
                é ter com quem nos mata, lealdade.

                Mas como causar pode seu favor
                nos corações humanos amizade,
                se tão contrário a si é o mesmo Amor.
            

Meu destino, de Cora Coralina

                Nas palmas de tuas mãos
                leio as linhas da minha vida.
                Linhas cruzadas, sinuosas,
                interferindo no teu destino.
                Não te procurei, não me procurastes
                íamos sozinhos por estradas diferentes.
                Indiferentes, cruzamos
                Passavas com o fardo da vida…
                Corri ao teu encontro.
                Sorri. Falamos.
                Esse dia foi marcado
                com a pedra branca
                da cabeça de um peixe.
                E, desde então, caminhamos
                juntos pela vida…
            

Soneto de Fidelidade

                De tudo, ao meu amor serei atento
                Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
                Que mesmo em face do maior encanto
                Dele se encante mais meu pensamento.
                
                Quero vivê-lo em cada vão momento
                E em louvor hei de espalhar meu canto
                E rir meu riso e derramar meu pranto
                Ao seu pesar ou seu contentamento.
                
                E assim, quando mais tarde me procure
                Quem sabe a morte, angústia de quem vive
                Quem sabe a solidão, fim de quem ama
                Eu possa me dizer do amor (que tive):
                
                Que não seja imortal, posto que é chama
                Mas que seja infinito enquanto dure.
            

Beijo Eterno

                Quero um beijo sem fim,
                Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
                Ferve-me o sangue. Acalma-o com teu beijo,
                Beija-me assim!
                O ouvido fecha ao rumor
                Do mundo, e beija-me, querida!
                Vive só para mim, só para a minha vida,
                Só para o meu amor!
                Fora, repouse em paz
                Dormindo em calmo sono a calma natureza,
                Ou se debata, das tormentas presa,
                Beija inda mais!
                E, enquanto o brando calor
                Sinto em meu peito de teu seio,
                Nossas bocas febris se unam com o mesmo anseio,
                Com o mesmo ardente amor!
                Diz tua boca: "Vem!"
                Inda mais! diz a minha, a soluçar... Exclama
                Todo o meu corpo que o teu corpo chama:
                "Morde também!"
                Ai! morde! que doce é a dor
                Que me entra as carnes, e as tortura!
                Beija mais! morde mais! que eu morra de ventura,
                Morto por teu amor!
                Quero um beijo sem fim,
                Que dure a vida inteira e aplaque o meu desejo!
                Ferve-me o sangue: acalma-o com teu beijo!
                Beija-me assim!
                O ouvido fecha ao rumor
                Do mundo, e beija-me, querida!
                Vive só para mim, só para a minha vida,
                Só para o meu amor!